sábado, 22 de dezembro de 2012

SEM PALAVRAS PARA ESSAS PALAVRAS


Depois de muito tempo sem postar, trago aqui
um poema do mestre e amigo Francisco Valdo,
homem por quem eu tenho um grande respeito e admiração,
mestre que me ensinou a não enxergar apenas o óbvio,
mas sim olhar além...

Clayton Campos



DESPRENDIMENTO


Eu não quero nada
Que me leve a tudo
Que eu não quero ser.
Nada que me venda
Nada que me prenda
A códigos, a cânones, á propriedade.

Quero a liberdade de ser
Sem preciso ter
Bens, dinheiro, fama.
Quero ser sacana
Se me der vontade,
Ir pela cidade, seja noite ou dia
Sem dizer “bom dia”
Sem dizer “boa tarde”.

Eu não quero nada 
Que se justifique
Ou talvez, implique
Em ter que explicar.
Eu quero ser livre
Como é livre a onda
Que vai livre e solta
No dorso do mar.

Eu não quero nada
Que me exija crença
Nem a recompensa
De um mundo melhor.
Eu só quero a sorte
De não ser guiado
Como um boi marcado
A caminho da morte.

Eu não quero nada
Da sociedade 
Não é por maldade
O que vou dizer:
A sociedade é podre e feia
Quem nela se espelha
Não pode viver.

Eu não quero nada
Dessa burguesia
Farisaica e fria
De pose ostentada.
Eu quero distância
Carta de alforria
Dessa burguesia
Eu não quero nada.

Não quero a beleza
Pela Globo imposta
Estética de bosta
Massificação.
Eu quero o direito
De ser anormal
Sem ter que encarnar
A gíria global.

Eu não quero nada
Só quero sossego
Quero o desapego
Do material.
Quero uma mochila
Vereda ou estrada
Só quero ser eu
Eu não quero nada.

Francisco Valdo de Albuquerque

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